Um estudo publicado pelo Banco de Portugal, intitulado “Trajetórias educacionais e profissionais dos jovens: um olhar sobre a persistência da privação material e social”, revelou que adolescentes que crescem com privação material e social ou em risco de pobreza têm maior probabilidade de manterem essas dificuldades na vida adulta.
A pesquisa, que teve como objetivo analisar a relação entre as condições socioeconômicas na infância e o percurso educacional e profissional na vida adulta, utilizou dados do Sistema de Informação da Segurança Social (SISS) e do Sistema de Informação da Educação (SIE) para acompanhar a evolução de cerca de 200 mil jovens portugueses.
Os resultados apontam que adolescentes que vivenciam privação material e social, ou seja, que enfrentam dificuldades em termos de renda, acesso a bens e serviços básicos, moradia e educação, têm maior probabilidade de permanecerem em situação de vulnerabilidade na vida adulta. Além disso, aqueles que crescem em famílias em risco de pobreza também enfrentam maiores obstáculos no seu percurso educacional e profissional.
De acordo com o estudo, esses jovens apresentam maior risco de abandono escolar e menor probabilidade de prosseguir os estudos após o ensino médio. Além disso, têm menor inserção no mercado de trabalho e encontram-se em situação de precariedade, com salários mais baixos e maior vulnerabilidade ao desemprego.
Os pesquisadores destacam que a persistência da privação material e social na vida adulta está fortemente ligada às dificuldades enfrentadas na infância. Isso porque, segundo o estudo, esses jovens têm menos oportunidades de desenvolver habilidades e competências necessárias para se destacarem no mercado de trabalho, além de enfrentarem barreiras estruturais e sociais que limitam suas possibilidades de ascensão social.
Os resultados do estudo são preocupantes, uma vez que evidenciam a desigualdade social e a reprodução de privilégios ao longo das gerações. Isso significa que, mesmo com políticas públicas de combate à pobreza e à exclusão social, ainda há uma grande parcela da população que enfrenta dificuldades para romper o ciclo da privação.
Entretanto, é importante ressaltar que o estudo também aponta para a importância de medidas que possam mitigar esses efeitos e promover uma maior igualdade de oportunidades. Entre elas, destacam-se a implementação de programas de transferência de renda, ações de incentivo à permanência dos jovens na escola e a oferta de capacitação profissional e acesso ao mercado de trabalho.
Outro aspecto relevante é a necessidade de uma atuação conjunta entre diferentes esferas governamentais e a sociedade civil no combate à pobreza e à exclusão social. É preciso que haja uma articulação entre políticas públicas que promovam a inclusão social, o desenvolvimento humano e o acesso a oportunidades, visando romper com o ciclo da privação e oferecer condições para que todos os jovens possam construir um futuro melhor.
O estudo do Banco de Portugal reforça a importância de compreender e enfrentar as desigualdades sociais e seus impactos na vida dos jovens. É preciso atuar de forma conjunta e efetiva para garantir que todos tenham acesso a condições dignas de vida e oportunidades para desenvolverem seu potencial. Somente assim poderemos construir uma sociedade mais justa, igualitária e próspera para todos.