Um estudo recente realizado por pesquisadores da Universidade de Haifa, em Israel, descobriu que mulheres grávidas que passaram por traumas causados por violência podem transmitir modificações epigenéticas para seus netos. Essas alterações genéticas podem ser causadas por eventos traumáticos, como o massacre ocorrido na cidade síria de Hama, em 1982.
O massacre de Hama foi um dos episódios mais sangrentos da história recente da Síria. Durante o governo de Hafez al-Assad, pai do atual presidente Bashar al-Assad, o exército sírio invadiu a cidade de Hama para reprimir um levante islâmico. Estima-se que entre 10.000 e 40.000 pessoas foram mortas durante o massacre, que durou cerca de três semanas.
O estudo, liderado pela professora Rachel Yehuda, analisou o DNA de 36 mulheres que estavam grávidas durante o massacre de Hama e de seus netos. Os resultados mostraram que os netos dessas mulheres apresentavam níveis mais altos de metilação do que os netos de mulheres que não estavam grávidas durante o massacre.
A metilação é um processo epigenético que envolve a modificação química do DNA. Essas modificações podem afetar a expressão dos genes, ou seja, a forma como os genes são ativados ou desativados. Estudos anteriores já haviam mostrado que eventos traumáticos podem causar alterações epigenéticas em indivíduos que passaram por eles, mas essa é a primeira vez que se observa esse efeito em gerações posteriores.
Segundo a professora Yehuda, essas alterações epigenéticas podem ser transmitidas para as gerações seguintes através do óvulo ou do espermatozoide. Isso significa que os traumas vivenciados por uma mulher grávida podem afetar não apenas a saúde mental e emocional de seus filhos, mas também de seus netos.
Essa descoberta pode ter implicações importantes para a compreensão dos efeitos de eventos traumáticos em populações que passaram por conflitos armados ou outras formas de violência. Além disso, pode ajudar a explicar por que algumas pessoas são mais suscetíveis a desenvolver transtornos mentais, como ansiedade e depressão, mesmo sem terem passado por situações traumáticas diretamente.
No entanto, é importante ressaltar que os resultados desse estudo ainda são preliminares e precisam ser confirmados por pesquisas adicionais. Além disso, é necessário considerar que outros fatores, como o ambiente em que os netos crescem, também podem influenciar sua saúde mental e emocional.
Apesar disso, a descoberta de que traumas vivenciados por mulheres grávidas podem ter efeitos duradouros em suas famílias é um avanço significativo na área da epigenética. Isso reforça a importância de cuidar da saúde mental e emocional das mulheres durante a gravidez, não apenas para o bem-estar delas, mas também para o bem-estar de suas futuras gerações.
Além disso, esse estudo também destaca a necessidade de se buscar formas de prevenir e tratar transtornos mentais e emocionais causados por traumas. Afinal, essas alterações epigenéticas podem ser transmitidas para as gerações seguintes, perpetuando o ciclo de sofrimento.
É importante lembrar que, apesar de ser um estudo com foco em um evento específico, o massacre de Hama, os resultados podem ser aplicados a outras situações de violência e trauma. Isso porque, infelizmente, conflitos armados e outras formas de violência são uma realidade em muitas partes do mundo, e seus efeitos podem ser sentidos por várias g